Uma pessoa
Janeiro 08, 2013
Mar
conhece outra pessoa. Olha para ela, vê-a passar. A pessoa estava ali e, de repente, passa a estar mais. Uma vez, outra vez, muitas vezes. Uma pessoa pensa que já tinha visto a pessoa, num tempo qualquer, não sabe bem onde nem como ou de que maneira. E com esse pensar, esse Big Bang social, uma pessoa criou, na sua vida, a outra pessoa. A partir daí a pessoa, que existia e estava ali mas que na nossa vida ainda não tinha sido criada, passa a suscitar em nós um qualquer tipo de reacção. Boa ou má, intensa ou assim-assim. Nem sempre, não todos os dias mas, um dia aqui outro dia ali e a pessoa lá está, continua a estar e respira e ri e fala e faz coisas e nós a pensar que sim ou nós a pensar que não. Algures no processo, tropeçamos na pessoa e trocamos palavras. Emissor-receptor, palavras soltas ou pesadas, construtivas ou aparvatadas. Sorrimos ou embirramos e esquecemos ou continuamos, fabricamos uma imagem a partir dos pedaços avulso que nos são dados a conhecer. Quase nunca real, muito do que construimos traduz mais aquilo que gostarímos que a pessoa fosse do que a verdadeira essência que a compõe. Às vezes andamos lá perto, descobrimos mais tarde que afinal acertámos no encaixe de quase todas as peças, uma pincelada aqui, um polimento ali e o quadro que pintámos para nós aparece finalmente, para o bem ou para o mal, em todo o seu esplendor. Noutras (raras) falhamos redondamente e ficamos assim confusos, meio amargos, conscientes à força de que, afinal, também nos podemos enganar tanto. Outras há, ainda, em que não chegamos a ter a oportunidade de comprovar as nossas teorias. Mas a pessoa fica ali na mesma e, teimosos, deciframos-lhe nos gestos e sorrisos, nas atitudes que assume, na defesa das Causas, no afago carinhoso a uma criança, até na coincidência dum post publicado e que, pelo seu significado, estivémos nós a um milímetro de publicar anteriormente, as certezas que não pudémos alcançar de outra forma. E, às vezes, isso basta.