...
Janeiro 30, 2007
Mar
Eu vi-os a caminhar ao lado do medo
e era um medo que batia no ar
e depois no rosto e depois nos olhos que
abriam as valas da terra.
Aqui perdemos a casa, o pai, o pão,
uma flor que havia no centro das nossas vidas.
E este mar.
Esse mar encostado ao sono,
este sono sem voz,
esta voz sem pássaros,
esta fonte de sangue,
este sangue com lágrimas correndo para as
praias devastadas.
Uma rosa por dentro,
com a dor das mães, uma dor que descreve a
vida inútil das palavras,
a vida inútil das romãs junto ás casas.
Sem filhos, diziam elas,
que faremos sem filhos, sem vento, sem amor.
Todos partiram do mundo,
da sua música e das palmeiras ternas.
Ao longe,
pela noite, um grito invade as tendas
sobressaltam-se as candeias,
o céu despenha-se sobre os ombros
inclina-se o cedro do Líbano.
O tigre acorda e percorre os labirintos
de um coração destruido.
Inicia-se o incêncio das árvores belas.
Tudo parece dormir, ao longe,
nas cidades de deus -
casas, alpendres,
aposentos de cortinas fechadas sobre um
punhal de luz.
Somos as amadas, as amantes e temos sede.
Abre-se uma fenda,
uma ferida no corpo convulsivo do oriente.
A meio,
estamos a meio de um tempo de ruinas
incertas.
Alguém reza numa mesquita feita de incenso e
areia.
Brilham ainda, no oásis, duas pérolas do
mesmo fulgor,
dois astros que iluminam as trevas.
Líbano, de José Agostinho Baptista
Um dos presentes da EGOÍSTA, um texto entre muitos, com a diferença que este é uma linda e demolidora prece pela PAZ.
e era um medo que batia no ar
e depois no rosto e depois nos olhos que
abriam as valas da terra.
Aqui perdemos a casa, o pai, o pão,
uma flor que havia no centro das nossas vidas.
E este mar.
Esse mar encostado ao sono,
este sono sem voz,
esta voz sem pássaros,
esta fonte de sangue,
este sangue com lágrimas correndo para as
praias devastadas.
Uma rosa por dentro,
com a dor das mães, uma dor que descreve a
vida inútil das palavras,
a vida inútil das romãs junto ás casas.
Sem filhos, diziam elas,
que faremos sem filhos, sem vento, sem amor.
Todos partiram do mundo,
da sua música e das palmeiras ternas.
Ao longe,
pela noite, um grito invade as tendas
sobressaltam-se as candeias,
o céu despenha-se sobre os ombros
inclina-se o cedro do Líbano.
O tigre acorda e percorre os labirintos
de um coração destruido.
Inicia-se o incêncio das árvores belas.
Tudo parece dormir, ao longe,
nas cidades de deus -
casas, alpendres,
aposentos de cortinas fechadas sobre um
punhal de luz.
Somos as amadas, as amantes e temos sede.
Abre-se uma fenda,
uma ferida no corpo convulsivo do oriente.
A meio,
estamos a meio de um tempo de ruinas
incertas.
Alguém reza numa mesquita feita de incenso e
areia.
Brilham ainda, no oásis, duas pérolas do
mesmo fulgor,
dois astros que iluminam as trevas.
Líbano, de José Agostinho Baptista
Um dos presentes da EGOÍSTA, um texto entre muitos, com a diferença que este é uma linda e demolidora prece pela PAZ.